Há uma grande distância entre o ser e sua alma...este é um espaço que pretende permitir que anseios ocultos brotem e revelem um pouco do bardo que mora bem dentro do coração.
Buzinas, o cão, motores... de carros, caminhões, do gás, do lixo, notas infernais e as ouço todas em suas nuances milimétricas.
Timbres insólitos, agressores insuportáveis, conspurcam uma paz urgente...
Prezo o silêncio!
Aquieto-me...
então, ecos do passado invadem com uma ganância aguda, fazendo eclodir memórias, vozes, medos, sonhos, projetos inconclusos, num redemoinho de pensamentos incontroláveis...
Rogo por uma nesga de silêncio, e me é tão caro...
silencio enfim, para o mundo e para mim... e o telefone toca, toca,
toca,
toca...
já não o ouço
vez ou outra ainda, como lâmina afiada, novo enxame de ruídos voltam a dilacerar meu raro silêncio
Desperta afinal o Gamo, peregrino a vagar pelas trevas. Cruel pesadelo auto-imposto; vassalo tornou-se de espectros cegos.
Embriagava-se ao sugar, servindo banquetes à mercê de palavras, em simbiose letal, inerte, o seu sepulcro buscava.
E assim, jazia ele, vítima de seu próprio martírio! Lá, permaneceu largos anos, esquálido flagelo, da morte cativo.
Oculta, porém, nos escombros, estava quem migalhas colhia ... cuja existência marcada, despertava piedade e simpatia.
Sorrateira, tornou-se alento, para aquele que nada mais era, amiga, envolvia-o na teia, ao contentar-se com reles quimera.
Ardilosa, matreira, fingia idílio e amizade sincera, mas nas sombras comprava vida, às custas de sortilégios. Enfeitiçado e perdido, não enxergava armadilha, tramada a meia noite , na porta do cemitério.
Sacrifícios e sangue foram o preço de tal macabra investida; e de luto, o pobre sofria, ciente que só caía, só caía!
Paciente, sua amada o esperava, ingênua, nada sabia, mas vítima dos malefícios, só dormia, só dormia....
Até que, lúgubre grito, despertou-a de sono profundo, destroços tomavam lugar do que antes era seu cultivo.
E foram dias de mágoa, terror e dor infinita, de quem conhecia o amor lealdade elivre-arbítrio.
Com um punhal cravado no peito, roga aos céus em feroz clamor, acolhido de imediato livrando o gamo de seu torpor.
Foi esse amor verdadeiro a glória do Gamo Rei, ainda tropeça,mas cria, o próprio roteiro que agora é só seu.