Prezo silêncio...a estaca não pára!Buzinas, o cão,motores...de carros, caminhões,do gás, do lixo,notas infernaise as ouço todasem suas nuancesmilimétricas.Timbres insólitos,agressores insuportáveis,conspurcam uma paz urgente...Prezo o silêncio!Aquieto-me...então, ecos do passadoinvademcom uma ganância aguda,fazendo eclodir memórias,vozes, medos,sonhos,projetos inconclusos,num redemoinho de pensamentosincontroláveis...Rogo por uma nesga de silêncio,e me é tão caro...silencio enfim,para o mundo e para mim...e o telefone toca,toca,toca,toca...
já não o ouçovez ou outra ainda,como lâmina afiada,novo enxame de ruídosvoltam a dilacerar meu raro silênciopermaneço...a prezar por ele,silencio...Erin lagus
Cinzas, colho cinzas
e descubro nelas
sementes novas,
cuido de cada uma
como se fossem jóias
preciosas.
Último plantio
espero
que nasçam flores
as mais belas
e floresçam
...todas...
Testemunhas do tempo,
sofrimento e glória,
e só quero
um ramalhete de
rosas, primaveras
de todas as cores
e que provem
que há vida
e com ela a esperança
dos dias que passam,
amadurecem a semente
que é fértil
e brota,
cresce,
sempre.
Erin Lagus
Desperta afinal o Gamo,peregrino a vagarpelas trevas.Cruel pesadelo auto-imposto;vassalo tornou-se de espectros cegos. Embriagava-se ao sugar,servindo banquetes à mercê de palavras,em simbiose letal, inerte,o seu sepulcro buscava.E assim, jazia ele,vítima de seu próprio martírio!Lá, permaneceu largos anos,esquálido flagelo,da morte cativo.Oculta, porém, nos escombros,estava quem migalhas colhia ...cuja existência marcada,despertava piedade e simpatia.Sorrateira, tornou-se alento,para aquele que nada mais era,amiga, envolvia-o na teia,ao contentar-se com reles quimera.Ardilosa, matreira, fingia idílioe amizade sincera,mas nas sombras comprava vida,às custas de sortilégios.Enfeitiçado e perdido,não enxergava armadilha,tramada a meia noite ,na porta do cemitério.Sacrifícios e sangue foram o preçode tal macabra investida;e de luto, o pobre sofria,ciente que só caía, só caía!Paciente, sua amada o esperava, ingênua, nada sabia,mas vítima dos malefícios,só dormia, só dormia....Até que, lúgubre grito,despertou-a de sono profundo,destroços tomavam lugardo que antes era seu cultivo.E foram dias de mágoa,terror e dor infinita, de quem conhecia o amorlealdade e livre-arbítrio.Com um punhal cravado no peito,roga aos céus em feroz clamor,acolhido de imediato livrando o gamo de seu torpor. Foi esse amor verdadeiroa glória do Gamo Rei,ainda tropeça, mas cria, o próprio roteiroque agora é só seu.Erin Lagus